
Quem vê Leo Moretti caminhando pelas ruas de Ipanema com suas roupas discretas e semblante tranqüilo não imagina que ele é o irmão de um dos músicos mais em alta na cena pop mundial: Fabrizio Moretti, baterista do Strokes e da recém-lançada Little Joy, projeto criado em parceria com Rodrigo Amarante.
"Fico impressionado toda vez que vejo meu irmão numa revista, parece que não é real. É muito esquisito ver que uma pessoa que você conhece tão intimamente virou um ídolo", diz Leo, de 31 anos, quatro a mais que o músico do Strokes.
"Quando ele veio aqui pela última vez, tivemos de parar na rua para ele dar autógrafos; foi bizarro, eu não sabia o que fazer", conta Leo, que reserva um sofá-cama em seu apartamento no Rio para as visitas do irmão, cerca de duas vezes ao ano. "Até quando penso nas pessoas que ele tem conhecido mundo afora é muito surreal para mim", diz Leo, lembrando que Fabrizio Moretti chegou a namorar a atriz de Hollywood Drew Barrymore.
Primórdios do Strokes
Leo, que foi criado em Nova York com Fabrizio Moretti e só veio morar no Rio há cerca de seis anos, conta que, por pouco, não fez parte do Strokes. "Eu toco guitarra, e a gente começou todos juntos, tínhamos uma bandinha de escola, eu, o Fabrizio e os caras do Strokes. Era uma grande brincadeira, só por diversão", diz. "Só que eu era o mais velho do grupo e fui para a universidade, fora da cidade. E foi justamente nessa época que a banda virou coisa séria e, de repente, os shows deles começaram fazer sucesso. Aí eu queria voltar, mas eles não deixaram", conta Leo rindo.
Mas ele garante que o destino estava certo e que não teria sido feliz como astro do pop rock. "Gosto de ser imperceptível, sou mais tranqüilo, mais certinho, rotineiro. E não dá para ser rotineiro nesse mundo do meu irmão. Acho que ele tem esse jogo de cintura, eu não tenho."
Entretanto, ele afirma que a música ainda é "a paixão de sua vida". "Desde pequenos, meu irmão e eu somos loucos por música", afirma. "Crescemos nos EUA ouvindo LPs do meu pai e acompanhando nossos ídolos: Michael Jackson, Paul McCartney e, mais tarde, Guns N' Roses. A gente queria ser o Slash, até deixei o cabelo crescer", conta Leo às gargalhadas.
Nascidos no Brasil, filhos de uma brasileira com um italiano, Leo e Fabrizio foram morar nos EUA aos sete e quatro anos, respectivamente, por conta do trabalho do pai, como engenheiro nuclear. Mas os três anos de permanência, planejados inicialmente, acabaram virando 17.
Mas, mesmo após tanto tempo, Leo diz que ele e o irmão sempre se sentiram como estrangeiros nos EUA. "O Fabrizio também se considera brasileiro, temos uma forte identificação com as nossas raízes", afirma.
Chefe de si próprio
Hoje, Leo Moretti é proprietário de uma pequena empresa de tecnologia, que presta consultoria para grandes corporações, e ele alcançou seu antigo sonho de ser seu próprio chefe.
Mas nem sempre foi assim. Formado em Comunicação Social pela City University de Nova York, o empresário encontrou grandes dificuldades para conseguir emprego nos EUA em sua área. "Fiquei meio perdido, rodando Nova York com o currículo na mão", lembra.
A busca resultou em uma das situações mais inusitadas de sua vida, que aconteceu justamente em 11 de setembro de 2001, dia do ataque histórico ao World Trade Center. "Eu tinha finalmente conseguido um trabalho e era meu primeiro dia, num escritório ao lado das Torres Gêmeas. Só que no meio do caminho lembrei que tinha esquecido minha caneta em casa e voltei para buscá-la, porque meu pai tinha dito: 'nunca comece num emprego sem sua própria caneta'." O atraso acabou salvando Leo do pior, pois quando ele finalmente chegou ao local, o ataque terrorista tinha acabado de acontecer. "Fui salvo pela superstição, tive uma sorte danada", diz. "Mas aí mesmo que fiquei sem emprego", completa rindo.
O evento foi o que faltava para Leo decidir voltar para o Brasil e tentar arranjar trabalho na área de publicidade, acompanhado dos pais. "O Fabrizio não quis voltar junto porque ele estava firme naquele sonho, o Strokes estava decolando", conta.
Depois de dois anos procurando oportunidades, o pai de Leo e Fabrizio, que já estava aposentado, resolveu abrir um negócio na área de tecnologia junto com filho mais velho. "Foi então que começamos a trabalhar juntos, eu administro, meu pai é o mentor e minha mãe cuida da contabilidade. Isso quando ela não está ocupada ouvindo Strokes e comprando revistas em que meu irmão aparece. É a fã número um."
A rotina da família só se modifica quando Fabrizio vem ao Rio, passar uns dias. "Quando a gente se encontra, é como se voltassemos no tempo, lá para a época em que a gente era criança. Lembramos de nossa infância, nossas brincadeiras, nossas férias na Itália, com a família do meu pai."
Leo Moretti afirma que há grande possibilidade de que o Little Joy realize shows no Brasil no início de 2009 e afirma que já está animado com a chegada do irmão caçula. "Juntos, a gente fala besteira e ri muito, ele é um cara bem engraçado. Sinto muita falta dele o tempo inteiro, mas quero o melhor para ele, que continue tendo sucesso e ótimos trabalhos, no Strokes e no Little Joy"
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