quarta-feira

Dead Fish lança CD e diz que falta conteúdo em nova geração


Minutos antes da entrevista começar, enquanto o guitarrista Phillipe se ajeita em sua cadeira, o vocalista Rodrigo Lima coloca um papel sobre a mesa. A folha é um xerox de uma resenha publicada em uma revista brasileira sobre o novo lançamento do Dead Fish, o álbum Contra Todos. Embora o texto não ataque diretamente o CD, a banda ainda enfrenta um velho problema que acompanha a carreira do grupo. Se optam pelo hardcore tradicional, acabam criticados por falta de inovação. Se tentam mudar, são alvejados como traidores de suas raízes.

De uma maneira ou de outra, Contra Todos rompe com a sonoridade testada pela banda em seu trabalho antecessor, Um Homem Só, de 2006. "De primeira a gente queria fazer uma coisa diferente do Um Homem Só, que foi um CD que a gente experimentou mais. Queríamos que fosse uma coisa espontânea da banda, que fosse mais divertido de fazer, uma coisa direta mesmo", disse Rodrigo ao Terra.

Confira a entrevista completa:

Este álbum vem sendo apontado como o trabalho mais direto e objetivo do Dead Fish. Como aconteceu isso?
Rodrigo
- De primeira a gente queria fazer uma coisa diferente do Um Homem Só, que foi um CD que a gente experimentou mais. Queríamos que fosse uma coisa espontânea da banda, que fosse mais divertido de fazer, uma coisa direta mesmo.
Phillipe - O Um Homem Só tinha rolado essa abertura musical, foi bom também ter feito isso pra esse disco a gente ter certeza de fazer uma coisa simples mesmo e tocar com intensidade.

Como que foi trabalhar em quarteto depois de tanto tempo com duas guitarras na formação?
Phillipe
- A concepção das músicas já parte mais simples. Isso já condicionava a música a soar mais simples. Essa a gente conseguiu amadurecer as músicas durante ano tocando ao vivo. Achei que a necessidade de fazer o disco foi essa vontade de ter uma pressão da banda que tinha perdido um pouco no último disco.

Este é o terceiro trabalho com a produção do Rafael Ramos, até onde ele influiu no resultado final?
Rodrigo
- A gente já chegou com um conceito bem fechado. Ele deu uma limpada na poeira. A gente tava meio viciado por tocar muito as músicas.
Phillipe - Ele é um amigo que já está no terceiro trabalho. É ótimo ter uma pessoa de fora pra ver tudo de outro ângulo. Esse disco a gente já chegou mais lapidado. Quando a gente chegou pra gravar já estava muito simples, não tinha muitas dúvidas. Era chegar e gravar. É sempre bom trabalhar com o Rafael por esse lado dele entender o que a gente está fazendo e somar.

Um Homem Só, de 2006, não foi muito bem recebido pela crítica. O que mudou entre vocês nesse meio tempo?
Rodrigo - Internamente os sentimentos são diferentes. Eu que sou mais velho na banda senti que foi um trabalho mais ligado na música. Quando entramos no estúdio pensamos em fazer uma coisa menos subjetivas, menos cheia de detalhes. Vamos deixar acontecer.

Vocês enfrentaram recentemente, além da saída do guitarrista Hóspede, a despedida do baterista fundador Nô. Como encararam essas baixas?
Rodrigo - Isso é broxante. O trauma maior é meu do que da banda. Talvez por ser amigo de infância do cara. Foi complicado quando a gente percebeu que as coisas não iam funcionar. Outras pessoas saíram da banda e foi complicado, mas a saída do Nô foi a pior. Antes as coisas foram chatas, mas bem mais simples.
Phillipe - Mudança de integrante é muito desagradável. Parece morte de família. Pelo lado da banda é um passo pra trás pra dar dois pra frente. Às vezes esse passo pra trás é baixo demais. Toma um tombinho.

Vocês sempre se preocuparam com as letras e este ponto é o mais criticado da nova geração do rock brasileiro. O que que falta?
Rodrigo - Falta conteúdo de letra. Não sei se esses garotos foram protegidos demais ou se eles pegam um padrão estético. Eles são ótimos instrumentistas, em certo ponto até inovam. Acho que no quesito escrever, os moleques precisam ler mais ou ver menos televisão. Independente do que as pessoas critiquem sonoramente, a pedra crucial é o texto. Em técnica, comparando com o meu começo lá no Espírito Santo, os moleques são monstruosos.

No Brasil, ao mesmo tempo vemos bandas que viram celebridades e ocupam a mídia e grupos que não consegue se manter com sua própria música. Existe um caminho do meio?
Rodrigo - Não existe caminho do meio. A gente olha pro lado e não vê ninguém, e quem a gente vê está longe e não consegue dar a mão. Ou você vende celular com a tua música ou está em um emprego regular e tem uma banda fazendo o que você quer. A culpa também é nossa. A culpa também das bandas que estão no mainstream ou no independente que não se ligam que as coisas não precisam ser extremas. Se o cara está no mainstream ele é criticado pelos caras do independente. Se o cara é muito independente, ele criticado pelo cara do mainstream. Lá fora a gente vê que as pessoas conseguem sobreviver fazendo o que elas querem. Diversidade pra florescer idéias. Não um pegar uma fórmula e sair fazendo. Acho que isso vai demorar pra chegar no Brasil.

A internet seria uma peça chave nesse processo?
Rodrigo - A internet é uma das ferramentas. A pessoas que estão no independente não podem desprezar rádio, TV e nem mídia grande. Até porque a internet não é massificada, ainda fica pra classe média e alta. Acho que as pessoas envolvidas com música não podem desprezar a TV pública, não podem deixar de fazer pressão em uma TV aberta pra dizer 'eu também faço música, eu não tenho cabelo bonito mas olha a minha voz'. A mídia é pra todos, não é para dez. É uma ferramenta, não é o fim da coisa.
Entrevista dada ao site Terra

Nenhum comentário: