quinta-feira

Teoria: Sociedade moderna e ciência política com Chaves.



Com certeza qualquer um de nós já assistiu Chaves. O programa que sabe-se lá há quantos anos passa no SBT foi e sempre vai ser sucesso entre todas as idades. Embora vários modelos de programa humorístico tenham surgido, a fórmula mágica do programa ainda está para ser desvendada. O culpado pelo sucesso? Sim, Roberto Gómez Bolaños. Como todos sabem, é o homem que também atende sob a alcunha de Chespirito e, também, o garoto pobre da vila, o Chaves.
Seria uma estupidez da minha parte se eu estivesse aqui fazendo piadas com o programa, ou então relembrando cenas que todo mundo conhece - choveríamos no molhado. O que poucas pessoas percebem, é que este mirrado homem chamado Chespirito não é somente um gênio do humor. Da forma mais brilhante possível, ele conseguiu reunir em poucos personagens a miniatura de uma sociedade moderna - conceito de classes sociais, conflitos e disputas de poder, ideologias e, sobretudo, uma crítica sutil ao mundo em que vivemos. Talvez a figura mais explícita a respeito disto que estou falando seja o Chaves - o menino pobre que não tem o que comer. Porém, acredite, praticamente todos os personagens traz uma crítica junto de si e uma caricatura que ainda hoje faz sentido.
Para facilitar a explicação, dividirei os personagens por ordem hierárquica que aparecem em qualquer na sociedade capitalista ( claro, em uma hierarquia aos olhos daqueles que narram a História, ou seja, sempre pela visão dos vencedores, nunca pelos vencidos)


Seu Barriga
Dono de toda a vila, Seu Barriga faz o papel do capitalista. Está na vila religiosamente para pegar os rendimentos de sua propriedade. Apesar de já ter todos os confortos que o dinheiro pode dar, como uma mansão e uma brasília bege e, aparentemente, com um grande capital investido; insiste em acumular mais riquezas, fazendo seu dinheiro virar ainda mais dinheiro, explorando a todos com a cobrança do tributo mensal.


Professor Girafales
O intelectual da série, tenta impor a todos o seu saber erudito, científico e europeu em detrimento à cultura popular e latina. Por ser professor, julga-se capaz de corrigir ou criticar a postura do outro - sempre seguindo-se o manual escrito nos livros. Também coloca-se no direito de ser juiz que media os conflitos entre os moradores da vila. No entanto, fracassa em todas as atitudes acima mencionadas, inclusive enquanto leciona, aplicando um modelo falido de ensino que desde a Idade Média não funciona mais.


Jaiminho, o carteiro
A figura do Jaiminho é a perfeita representação da precariedade do funcionalismo público, que também é visível no Brasil. Sempre evitando a fadiga e deixando a entrega das cartas sob responsabilidade do destinatário, o carteiro demonstra toda a precariedade do aparato estatal; com instituições servindo de cabide de empregos e uso da máquina pública em benefício próprio.


Dona Florinda e Quico
Cópia fiel da classe média preconceituosa e reacionária. Não se misturar com as classes inferiores à sua é um mantra que seu filho assimila e entende que não deve conviver com aqueles que não compactuam com seu estilo de vida mesquinho. Vivendo às custas da aposentadoria de seu falecido marido que pertencia às forças armadas, vive uma vida rasa e decadente, vivendo de aparências, sem nem mesmo assumir um relacionamento sob o receio de ser mal vista pelos outros.


Chiquinha
A Chiquinha é o início do contraponto da sociedade moderna. Inteligente e curiosa, é a representante do movimento feminista. É quase sempre o pivô de desentendimentos entre os personagens, principalmente entre Quico e Chaves, que são sempre passador para trás por ela. A Chiquinha é a recriação da mulher na sociedade - não faz papel de frágil e nunca está em situação de inferioridade entre as outras crianças da vila nem aos adultos, que chega a enfrentar de igual para igual sempre através da argumentação. Reparem que, embora sempre esteja chorando, ela nunca apanhou de ninguém.


Seu Madruga
Juntamente com a sua filha, formam a família revolucionária, renegadores dos valores modernos e capitalistas. Seu Madruga é o ingovernável, uma pessoa que não se sujeita às pressões da sociedade ou do Estado. É desempregado por opção, tem poucos bens e tem plena convicção de que não precisa mais do que isto para viver. Questiona a autoridade de seu senhorio nunca pagando o aluguel e está sempre em conflito com a classe média, que tenta empurrar valores totalmente ideológicos.




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